Alheios

Um trânsito enorme de filas infinitas, uma linha vermelha de faróis traseiros, brigas, calor e cadê os nossos guardas de trânsito?

Um velho rabugento grita:

- Cadê esses inúteis? Só aparecem pra fazer blitz e multar o pobre trabalhador!

Um homem, que estava em seu carro ao lado, diz:

- Soube que estão desaparecidos...

- Talvez eles tenham sumido por causa desses clarões no céu! (falou outro homem.

Outro comentou:

- Eu tenho quase certeza que foi isso! Ouçam isso, que estão dizendo nos rádios!

De repente naquele imenso mar de carros parados, brigas e música alta, tudo se cala e o único som que se escuta pela avenida era do ruído dos rádios que iam ficando cada vez mais alto, ensurdecedor, até quase deixar as pessoas surdas.

Carros começam a explodir, pessoas começam a derreter e virar uma espécie de gosma verde. Os outdoors eletrônicos começam a piscar e mostrar símbolos estranhos.

Mais um clarão no céu e, a partir daí, nada mais acontece.

Os carros, as pessoas e tudo ao redor voltam ao normal, tudo fica em ordem, sem nenhum vestígio do caos e desordem de antes.

Mas, o que deveria ser considerado normal na vida de um guarda de trânsito? Ver crianças remelentas pedindo esmolas debaixo do sol quente nos semáforos? Ou ser xingado de vários nomes, ouvir desaforos de velhos bêbados, que se acham os donos da razão?

Não. O melhor mesmo é ser abduzido por Ets.

Autora: Isadora Schurhoff Ribeiro

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